24 de jul. de 2009

CARIDADE HIPÓCRITA

(by sonmarry-julho/2009)

Nos últimos tempos, preocupava-o sobretudo as misérias das classes - por sentir que nestas democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornavam mais secas e menos capazes de piedade.

«A Fraternidade (dizia ele numa carta de 1886, que conservo) vai-se sumindo, principalmente nestas vastas colmeias de cal e pedra onde os homens teimam em se amontoar e lutar; e, através do constante deperecimento dos costumes e das simplicidades rurais, o Mundo vai rolando a um egoísmo feroz.

A primeira evidência deste egoísmo é o desenvolvimento ruidoso da filantropia.

Desde que a caridade se organiza e se consolida em instituição, com regulamentos, relatórios, comités, sessões, um presidente e uma campainha, e do sentimento natural passa a função oficial - é porque o homem, não contando já com os impulsos do seu coração, necessita obrigar-se publicamente ao bem pelas prescrições dum estatuto.

COM OS CORAÇÕES ASSIM DUROS E OS INVERNOS TÃO LONGOS, QUE VAI SER DOS POBRES?...»

(Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'-http://www.citador.pt)

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